Vou tendo a sensação que, na compreensão comum, por vezes, ao tentar definir-se o que significa «ser cristão», as respostas batem em três pontos: a questão ritual e sacramental (ser baptizado, fazer a primeira comunhão, ser crismado, ir à missa, rezar…), a questão do conhecimento ou respeito por alguns conhecimentos ou dogmas de fé (acreditar em algumas coisas...), e a questão moral (comporta-se de uma certa maneira...).
Parece-me que esta maneira de ver pode fugir do essencial… ou melhor, todos estes elementos só têm sentido compreendidos com um fundamento anterior. De facto, a fé cristã tem a sua base num acontecimento histórico: a pessoa de Jesus Cristo. É nesta história concreta que se baseiam todas as reflexões posteriores, todos os comportamentos, todas as celebrações.
A função da Igreja não pode deixar de ser a de recontar sempre essa história. E os dogmas da fé não são senão uma forma de a expressar, com conceitos que a procuram esclarecer e torná-la mais compreensível. Os comportamentos morais não são senão uma forma de a narrar, com a própria vida, tornando-a actual em quem opta por procurar seguir o mesmo estilo de vida de Jesus. A celebração, uma forma de fazer a memória que actualiza o acontecimento de salvação por Ele realizado.
Com a celebração do Pentecostes, termina o tempo Pascal. Este tempo que celebra a memória dos acontecimentos finais da história de Jesus: paixão e morte, ressurreição, glorificação ou ascensão, envio do Espírito Santo. Os acontecimentos que mudaram a vida de tantas pessoas naquele momento e ao longo da história.
A fé cristã parte daqui. Deste acontecimento, como foi vivido por Cristo, e como foi acolhido e testemunhado por aqueles que o viveram também em primeira pessoa.
Tudo isto para chegar a uma afirmação: quando se fala de
ressurreição e do que ela significa, não se trata simplesmente de uma ideia entre outras desenvolvida racionalmente por quem buscava respostas para a questão da
vida depois da morte, mas da revelação feita pelo próprio Deus em Jesus Cristo, vivida por Ele e testemunhada pelos discípulos. Na base está esse acontecimento que, na história, ultrapassa os limites do tempo e do espaço, e dá a conhecer a vida de Deus para os homens. Sempre na lógica de um Deus que se faz presente na História. E que é na leitura da História que se conhece Deus.
Os textos dos Evangelhos que marcam este tempo Pascal falam de como o acontecimento da ressurreição foi vivido pelos seus protagonistas: Jesus e os discípulos.
Por um lado, apresentam-nos a pessoa de Jesus como aquele que tendo sido morto, tendo «fracassado», surge vivo e vitorioso. Por outro lado, os discípulos que, tendo desaparecido e mesmo traído Jesus, aparecem transformados radicalmente na sua maneira de estar… Como diz Shusaku Endo em
Uma Vida de Jesus, «Ao menos a lógica força-nos a concluir que, fosse qual fosse o evento, foi mais que suficiente para que na mente dos discípulos o “frágil” e “impotente” Jesus se tenha transformado num Jesus “todo poderoso”. E imediatamente nos vemos forçados a supor que tal acontecimento, fosse qual fosse a sua natureza, foi também suficiente para persuadir os discípulos de que a Ressurreição de Jesus foi um facto real». A tal ponto que, aqueles que antes tinham deixado Jesus sozinho na cruz, deram a vida por esta convicção…
O texto deste Domingo de Pentecostes é um dos que apresentam um dos encontros dos discípulos com o Ressuscitado. A partir dele podemos tentar perceber um pouco melhor o que poderá significar a ressurreição… E, no encontro com Ele, o que é ser «soprado» para viver com o mesmo Espírito Santo em nós...
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