Programa paroquial

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Padre Joaquim Carreira declarado “Justo entre as Nações”

O Monsenhor Joaquim Carreira, capelão da Boa Vista de 1931 a 1940, foi recentemente declarado "Justo entre as Nações", uma distinção atribuída a não-judeus que salvaram judeus durante a II Guerra Mundial.



Padre leiriense Joaquim Carreira declarado “Justo entre as Nações”
in: Diocese de Leiria-Fátima

Por ter arriscado a sua vida para salvar judeus durante a II Guerra Mundial, o padre Joaquim Carreira recebeu o título de “Justo entre as Nações” pelo Yad Vashem, o Memorial do Holocausto de Jerusalém.

A atribuição deste título ocorreu a 4 de setembro passado, mas só agora foi dada a conhecer, segundo revela António Marujo no blogue religionline.blogspot.pt. Terá sido, aliás, um trabalho de investigação deste jornalista no jornal Público de 23 de dezembro de 2012 que despertou a atenção do Departamento dos Justos do Yad Vashem para a figura e a ação do padre Joaquim Carreira e que levou a esta distinção.

Nascido no lugar do Souto de Cima, paróquia da Caranguejeira, a 8 de setembro de 1908, este sacerdote leiriense viveu grande parte da sua vida em Roma, onde desempenhou diversos cargos na Igreja, um dos quais o de reitor do Colégio Pontifício Português. Foi nessa condição que ali acolheu e escondeu dezenas de refugiados perseguidos pelo nazismo, alguns deles judeus, salvando-os assim da morte. Esse seria, aliás, o seu destino mais do que certo, caso essa situação fosse descoberta.

O prémio está reservado, precisamente, aos não-judeus que arriscaram a vida para salvar judeus da perseguição nazi e já tinha sido atribuído a 25.271 pessoas, até janeiro deste ano, sendo três deles portugueses: Aristides de Sousa Mendes, Carlos Sampayo Garrido e José Brito Mendes.

As pessoas declaradas “Justo entre as Nações” são distinguidas com uma medalha e um certificado de honra, os seus nomes são inscritos no mural de honra do Jardim dos Justos do Memorial do Holocausto de Jerusalém e é-lhes, ainda, concedida a cidadania de Israel, mesmo que seja a título póstumo, como é o caso do padre Carreira.

Segundo a mesma fonte, a entrega do diploma aos familiares do padre Joaquim Carreira deverá ocorrer na primavera ou verão de 2015, na Embaixada de Israel em Lisboa.

Um reconhecimento merecido

Também sacerdote natural da diocese de Leiria-Fátima, João Mónico, sobrinho e biógrafo do padre Joaquim Carreira, reagiu com surpresa a esta notícia. Mas sublinhou que se trata de um louvor merecido e que "esta distinção significa o reconhecimento do trabalho, percurso e atitude caritativa, de risco, por parte de monsenhor Joaquim Carreira", afirmou à televisão SIC.

Na mesma linha vai Travaços Santos, batalhense que investigou a história do padre Carreira e considera ser “até mais admirável a sua ação do que a do cônsul Aristides de Sousa Mendes, ainda que este possa ter salvo mais pessoas e seja mais conhecido por isso, mas correndo, com certeza, menos perigos”. Em declarações ao jornal Presente, referiu que “é pena não ser mais divulgada a história deste sacerdote leiriense, pois foi uma figura de relevo na história eclesiástica do seu tempo e um verdadeiro herói, ao salvar dezenas de vidas com o risco efetivo de perder a sua”.

Recordamos, a este propósito, a referência feita neste portal à publicação do mencionado trabalho de António Marujo e ainda às comemorações do centenário de monsenhor Joaquim Carreira promovidas pela diocese de Leiria-Fátima em setembro de 2008.

LMF | Presente Leiria-Fátima


Monsenhor Joaquim Carreira na Boa Vista
in: Santuário de Fátima

Nomeado capelão da Boavista (1931-1940), para lá caminhava todas as semanas, quer chovesse, ventasse ou fizesse sol. Não tinha carro. Apenas uma bicicleta. Mesmo assim, chegava a tempo e horas, tantas vezes com a batina repassada pela chuva e lama dos caminhos. A caridade de algumas famílias enxugava a batina do seu bom Capelão. Na Boavista deu o melhor da sua vida, através de uma pastoral pensada e organizada para um povo faminto de Deus e de cultura. Fundou a Acção Católica e Conferência de S. Vicente de Paulo. Organizou a catequese e formou as catequistas através de retiros e cursos. Para as crianças, além da catequese, havia récitas, magustos, amêndoas e concursos. Fomentou os encontros inter-paroquiais e diocesanos. Promoveu e acarinhou as vocações sacerdotais e religiosas que acompanhava com solicitude paternal. A devoção ao Santíssimo Sacramento-Eucaristia, ao Coração de Jesus e a Nossa Senhora, que tanto divulgou e encareceu, era vivida através de tríduos preparatórios e solenizados. No silêncio do confessionário, sempre acolhedor e afável, orientava espiritualmente o seu povo, ouvindo e compreendendo os seus problemas, horas a fio. Como bom pastor, procurava não ferir as ovelhas mais débeis. Somos todos irmãos, dizia. Educou o povo para que, no fim da Eucaristia, ninguém o perturbasse, durante 15 minutos. Queria estar a sós com Deus para, a seguir se tornar disponível para todos.


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